domingo, 22 de março de 2009

Primabera a estação do cuco!

Pois é galaicos, tive as minhas merecidas férias a semana passada, e como não poderia deixar de ser, optei por visitar os mais recônditos lugares da Galiza e Norte de Portugal.

Vi coisas fantásticas, autênticos tesouros. Aproveitei também para actualizar as minhas conversas com os meus familiares mais antigos. E como em certa manhã acordei ao som do CUCO, que por esta altura nos visita, procurei saber histórias e ele associadas, que eu sabia existirem mas já não me recordava!

“Não se deve ouvir o cuco em jejum pois é fraco sinal, trás a pouca bonança"

Foi mais ou menos isto que me explicaram. Mas esta explicação foi dada com muito custo pois mesmo os mais velhos já estavam esquecidos do verdadeiro adágio popular!

Então nas minhas pesquisas descobri que:

Na Galiza, escutar o cuco em jejum pela primeira ocasião no ano é sinal de mal agouro, de modo que aquele que escute fica “cucado” ou “capado”. “Capar” é, pois, o azar derivado do cuco, implicando que durante o resto do ano o desafortunado padecerá sono ou fome, dizendo-se “botou-ch’a ninhada o cuco!”, em referência à prática reprodutiva desta ave:

“Se al labrador lo coyía, pola mañá, el canto del cuco sin almorzar, era común el dito capoume el cuco”

Esta crença também manteve os seus reflexos no refraneiro, de modo que:

Entre março e abril não saias sem comer, que o cuco pode-te surpreender”
“O que oie o cuco en aúnos, leva albarda pró ano”
“O que oie o cuco en xaxún leva albarda pró ano”

Conta-nos Vasconcelos que em Portugal tampouco é bom ouvi-lo em jejum e sem dinheiro na algibeira, pela primeira vez no ano:

A gente do campo acha de mau agoiro ouvir, a primeira vez, o cuco estando em jejum, porque a pessoa a quem isto sucede fica encucada todo o ano. No entanto, o encucado pode ser desencucado, comendo bem cedo na manhã do dia seguinte ao do seu encucamento, de forma que o cuco não volte a encontrá-lo em jejum. Parece-me que ficar encucado é o mesmo que ficar atado, pasmado.

O remédio para este mal é:

“não sair da casa sem almoçar (pequeno-almoço, em Portugal) ainda que em algumas partes da Galiza, considera-se de bom agouro ter prata no peto.”
“Em certos lugares, como o Valadouro, afirma-se ainda que, não estando em jejum nesta primeira ocasião, é o próprio cuco quem ficaria cucado. Existe a crença complementar de que se deve "jogar no chão as moedas que tenhamos no peto no momento de escutá-lo por vez primeira.”

As sociedades tradicionais atribuíram grande importância ao mantimento do equilíbrio entre actividades humanas e o meio natural, relação essa que actualmente se designa por etnobiologia ou etnoecologia. Neste caso em concreto denota-se que a harmonia entre o ciclo natural do cuco e as vivencias das populações fez nascer todo um sistema simbólico complexo.

Contudo a tradição mais comum é o retorno do cuco marcar o início dos trabalhos agrícolas. Por essa razão é que é mau agoiro ouvir o cuco em jejum. Os lavradores nesta época do ano devem acordar cedo para iniciar os trabalhos do campo, antes do cuco cantar, caso contrário os trabalhos agrícolas podem ficar comprometidos!

“Quando cuca o cuco depois de São Pedro, cava sem medo”
“Quando vem o cuco, vem o pão ao suco”
“O cuquinho a cantar e a rulinha a rular, colhe o foucinho e vai segar”
“Si oies ó cuco tres días despois de San Pedro, cava, cavador, e non teñas medo”
“O cuco já veio e a poupa também. Senhor lavrador, lavre-me isso bem”

Na Galiza conservam-se claros exemplos destas crenças:
“¿Vén o cuco pola serra? Ano de codela” "¿Vén o cuco pola veiga? Ano de laceira” “Cando o cuco ven por Vilela, ano de moita gavela”

Temos também o caso da simbologia galego-portuguesa associada ao cuco que lhe confere um tratamento de nobreza:
“Cuco rei, cuco rei, cantos anos viverei?”
“Cuquinho de el-rei, quantos anos vivirei?”
“Cuco real, quantos anos me dás para casar?”


Fonte

1 comentário:

O Galaico disse...

Muito bom!

O Cucu é sem dúvida uma memória que trago desde a infância!

Era a ver quem ouvia primeiro o cucu!!

Chegava-se com alegria à escola e dizíamos: EU JÁ OUVI!!

Este ano ainda não o ouvi... Ou tenho acordado bastante cedo e vou directamente para o trabalho ou então durmo até mais tarde..

Mas o meu pai já o ouviu!