sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vinho Verde - O nosso Sangue!


Abordagem histórica


Por aqui se estar a falar de minifúndios agrícolas, não posso deixar de referir o cultivo da vinha nas terras Galaicas!

Foi no Noroeste, no coração mais povoado de Portugal que a densa população cedo se espalhou pelas leiras de uma terra muito retalhada.

Porque o meio era favorável não é de estranhar que aqui se encontrem desde milénios vestígios do ser humano.

Se existem dispersos por toda a região espólios do homem paleolítico e neolítico, é nas idades mais recentes do cobre e na transição para o ferro que vamos encontrar as primeiras marcas da sua presença.


A distribuição dos monumentos megalíticos existentes, ou presumíveis pela toponímia local perdurável até aos nossos dias, e a difusão das povoações Castrejas são uma prova fundamental da sua permanência nesta região.

Mas é com a ocupação romana e celta, que se iniciam as bases históricas duma civilização social, política, económica e administrativa neste noroeste peninsular.

Bracara Augusta (= Braga) foi o pólo principal desta nova civilização e Portus Cale (= Porto) seria o porto costeiro, trampolim para as comunicações marítimas.

Logo na primeira fase da reconquista que expulsou os mouros desta Região, os guerreiros cristãos arrastariam na retirada a maioria da população.

No repovoamento seguinte, perante a quase total ruína das cidades, a ocupação do solo fez-se primeiro pelas vilas e vilares (freguesias rurais) e depois, à medida que a reconstrução prosseguia, pelos burgos (cidades).

Braga, antiga capital, e Portus Cale distinguem-se nessa fase de repovoamento.

Os romanos transplantariam para aqui o regime agrário da Villa, que se constitui por um grande prédio, delimitado e dividido em sub-unidades.


Numa delas residia o senhor, o Dominus, que a explorava com os seus servos, outras eram arrendadas e cultivadas por lavradores mais ou menos livres.

Sabe-se que desde o século III a.C. se cultiva com alguma regularidade a vinha no território correspondente ao actual Entre-Douro-e-Minho.


Viticultura promissora

A partir do século XII existem já muitas referências à cultura da vinha cujo incremento partiu da iniciativa das corporações religiosas a par da contribuição decisiva da Coroa.

A viticultura terá permanecido incipiente até aos séculos XII-XIII, altura em que o vinho entrou definitivamente nos hábitos das populações do Entre-Douro-e-Minho. A própria expansão demográfica e económica, a intensificação da mercantilização da agricultura e a crescente circulação de moeda, fizeram do vinho uma importante e indispensável fonte de rendimento.

Embora a sua exportação fosse ainda muito limitada, a história revela-nos, no entanto, que terão sido os «Vinhos Verdes» os primeiros vinhos portugueses conhecidos nos mercados europeus (Inglaterra, Flandres e Alemanha), principalmente os da região de Monção e da Ribeira de Lima.


Segundo o Visconde de Villarinho de S. Romão, num excerto da sua obra O Minho e suas Culturas, escrevia que:

«... as exportações, principalmente as do Minho, datam de ephocas bem mais remotas que muitos julgam, sendo iniciadas pelos pescadores do Norte, que desde tempos immemoraveis exerciamsua arriscada industria nas costas da Gran-Bretanha.

Os portuguezes, como primeiros navegadores, foram os que na Europa firmaram a nova orientação commercial, referindo auctorisados escriptores que muito antes dos tratados firmados por Eduardo III, em 1353, já os portugueses traficavam em vinhos com a Inglaterra».

Com o florescimento das relações comerciais entre Portugal e a Inglaterra, durante o séc. XIV, após a Guerra dos Cem Anos, o nosso país já exportava vinho. Com a assinatura do Tratado de Windsor, em 1396, foram criadas as condições propícias à actividade comercial.

E terá sido por Viana do Castelo que se iniciou o tráfico de vinhos oriundos de Monção e da Ribeira Lima, durante o reinado de D. Afonso IV, mais precisamente por volta do ano 1353. Rumavam à Terra Nova e eram trocados por bacalhau.

Nesse tempo, a fronteira portuguesa seguia ao longo do rio Minho até perto de Ourense, o que justificaria o que o cronista Duarte Nunes de Leão escreveu «os riquíssimos vinhos de Monção e Ribadávia, como bebida de nobres».

O Vinho Verde servido na Grã-Bretanha era celebremente conhecido e Orey – sendo esse o nome que os britânicos davam ao Vinho Verde.


E esse vinho foi, indubitavelmente, o vinho verde de Monção - eager wine – mas não o actual Alvarinho, pois era vinho tinto ou, antes, clarete, devido às castas pouco tintureiras.

Depois da Restauração de 1640 e com a perda da margem de Ribadávia, assiste-se a uma diminuição da exportação pela barra de Viana a ponto de desinteressar os próprios ingleses.

O certo é que as firmas britânicas que mantinham o comércio de Viana e do Porto foram-se fixando no Douro e abandonando a região de Monção, ainda que continuassem a levar alguns dos melhores vinhos desta Região para uma clientela mais exigente.


100 anos de Região Demarcada de Vinhos Verdes!

A orientação para a qualidade e a regulamentação da produção e comércio do «Vinho Verde» surgiriam no início do século XX, tendo a Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908 e o Decreto de 1 de Outubro do mesmo ano, demarcado pela primeira vez a «Região dos Vinhos Verdes».

Questões de ordem cultural, tipos de vinho, encepamentos e modos de condução das vinhas obrigariam à divisão da Região Demarcada em nove sub-regiões: Monção, Lima, Cávado, Basto, Ave, Sousa, Amarante, Paiva e Baião.


De entre todas as regiões vitícolas espalhadas pelo Mundo, a Europa é aquela que apresenta maior extensão e a que guarda maior tradição desta cultura. Desde a antiga civilização grega ao império romano, ela faz parte da vida, da história e das tradições de países como a França, Espanha e Portugal.

Actualmente, são conhecidas cerca de 8.000 variedades de vinhos em todo o mundo.

Motivo de grande significado à escala mundial, foi a aceitação do relatório de reinvindicação da Denominação de Origem «Vinho Verde», apresentado ao OIV - Office International de la Vigne et du Vin -, em Paris (1949), e posteriormente, o reconhecimento do registo internacional desta Denominação de Origem pela OMPI - Organização Mundial da Propriedade Intelectual, em genebra (1973).

Como se deve imaginar, os Vinhos Verde são únicos no mundo!


É, contudo, compreensível que descubramos na cultura da vinha e na produção de vinho, mais de que uma actividade e um complemento económico familiar, a manifestação de um cerimonial, uma atitude de identificação cultural e afirmação social, em que o vinho produzido assume papel de um verdadeiro cartão de visita que pretextua longas conversas e se dá a provar aos amigos...

Saúde!

http://www.vinhoverde.pt/default.asp

Zixsix

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