terça-feira, 24 de junho de 2008

Plantas Silvestre Galaicas

Vamos aqui falar de etnobotânica como sendo a ciência que estuda os conhecimentos e saberes tradicionais do uso e propriedades das plantas silvestres.

Este património, transmitido de geração em geração, está em risco de desaparecer devido ao abandono da vida rural e à maior facilidade de recorrer à medicina convencional.

Desde os tempos mais remotos se utilizou em terras galaicas as plantas silvestes, para diversos fins, como alimentação, condimento, uso doméstico, construções, vestuário, adorno, combustível e, muito destacadamente, para a elaboração de mezinhas caseiras e práticas mágico-religiosas.

As mezinhas podem ser sobre forma de chá, infusão, gargarejos, ingestão, inalação, licor e banhos.

Alecrim
"Alecrim, alecrim doirado que nasce no monte sem ser semeado" já é canção popular.

Populares são também as suas propriedades curativas sobre o sistema nervoso, funcionando como calmante, fortalecendo a memória e elevando a moral dos deprimidos.

Ideal para dores de estômago, enxaquecas, rugas, feridas, queda de cabelo e o “mau olhado”.

Carqueja

A carqueja é uma planta comum no norte de Portugal cujas flores são muito apreciadas na preparação de infusões e na culinária; por exemplo o arroz de carqueja.

É uma planta que nasce em montes e serras áridas. Quando seca, é usada pelas populações por exemplo para acender o lume, fazer vassoiras, limpar chaminés e esfregar o pote da cozinha e tirar a felugem das chaminés.

É indicada para a hipertensão, circulação sanguínea, diabetes, digestão, constipação, bronquite, rins, fígado, bexiga e para fins dietéticos.

Cidreira

De folhas aveludadas, é uma planta que tem a particularidade de atrair as abelhas. Por essa razão, deve-se esfregar as colmeias com erva-cidreira para as abelhas não fugirem.

É indicada para digestões difíceis, cólicas, flatulência, e ideal para utilizar como calmante e combater as insónias.


Fel da terra

Como o próprio nome indica, é uma planta muito amarga. É também conhecida como planta da febre.

É muito útil para a hipatite, anemia, anorexia, falta de apetite, febres, fígado, feridas e úlceras.

Freixo

O freixo é uma das mais importantes árvores galaicas e também das mais raras.

Pode atingir uns 40 metros de altura e os 300 anos de vida se o terreno for bastante irrigado como as margens dos ribeiros, nascentes, lameiros ou rios.

Na zona Minho, este tipo de folhosa sofreu muita procura por parte da população em geral e os artesãos em particular.

Pela sua consistência e dureza, a madeira de freixo era ideal para fabricar diversos utensílios utilizados na lavoura como os “jugos das vacas”, escadas e cabos para as ferramentas.

A sua folha é indicada para o colesterol, ácido úrico, má circulação e reumatismo.

Giesta branca

É uma planta adaptada a solos pobres e exposto a ventos rigorosos. Só existe na zona Norte de Portugal e Galiza, podemos considerar uma planta verdadeiramente Galaica!

Como é lanhosa, é também muito utilizada para fazer fogueiras. Em determinadas zonas podem atingir mais de 5 metros de altura.

Dela também se fazem vassoiras e se utilizava para fazer os telhados das habitações e cortes dos animais.

Ideal para prevenir problemas cardíacos, ureia, diabetes e infecções de bexiga.

Gilbarbeira

Planta silvestre muito usual entre os carvalhais galaicos.

Devido às suas bolinhas avermelhadas, esta planta é em muito idêntica ao azevinho.

Quando seca fazem-se vassoiras para limpar a felugem (carvão) das chaminés do telhado e do forno de cozer o pão.

As folhas são indicada para cansaço, emagrecimento, celulite, gota, hemorróidas, insuficiência venosa e renal.


Macela

Muito comum nos campos minhotos. O seu florir salpica os verdes campos de amarelo e branco em cenários sem fim.

É muito usada na lavagem de feridas e perturbações gastrointestinais.

Malvas

A conhecida água de malvas ou “água de cu lavado” era o tratamento utilizado pelas mulheres para fazer a sua higiene pessoal. Devido às suas propriedades, é muito utilizada para irrigações vaginais.

Já sendo ditado popular, quando um moço está apaixonado, diz-se que a amada já lhe “deu a beber água das malvas”. Quando alguém está a ser muito chato e inconsequente diz-se “que vá às malvas”, isto é “que se vá curar”.

Ideal para as dores de dentes, bexiga, infecções, inflamações dos olhos, tosse, bronquite, e varicela.


Sabugueiro

É uma planta comum entre os campos galaicos. Depois de se tirar o miolo, o seu caule fica oco, e as crianças utilizavam-no para fazer os chamados “tiretes”.

Uma espécie de pistola que arremessava, com ajuda de um pau fininho, as bagas dos loureiros, depois de entalados no pau de sabugueiro.

A folha de sabugueiro é ideal para gripes, constipações, resfriados e para combater o desconforto das ressacas.

O suco das bagas é um óptimo remédio para as enxaquecas e o nervosismo.

São Roberto

Já na Idade Média, e provavelmente anterior a esta época, esta planta era associada a problemas de sangue.

Foi utilizada em rituais de magia, em curas de hemorragias, fígado, cicatrizar feridas, diarreia e problemas gastrointestinais.

É muito útil no tratamento de úlceras de estômago e intestino, hemorróidas, inflamação da boca e sangramento de gengivas, menstruações abundantes, dores de garganta, limpeza da pele e cicatrização de feridas.

Sete sangrias

Também conhecida por sargacinho, é uma planta que se encontra facilmente entre os pinheiros.

De um azul inconfundível, é indicada para o catarro, constipações, hematomas, bexiga e retenção de urina.

Urtiga

É uma planta que ao ser tocada irrita a pele com pequenas borbulhas e provoca ardência e coceira.

Se queremos colher urtigas à mão, existe uma táctica milagrosa, basta suster a respiração.

Para estancar o sangramento do nariz, utiliza-se um pouco de algodão embebedo em suco de urtiga.

Indicado para anemia, asma, infecções, hemorragias internas, circulação, irritação da pele, queimaduras, gota e úlcera.

Urze

Planta que se multiplica facilmente nos montes mais áridos. Serve de repasto para cabras e ovelhas e quando floresce é muito procurada pelas abelhas.

Como é muito lanhosa e ramificada é uma planta usada para fazer fisgas, e das suas raízes fazem-se magníficos cachimbos.

É utilizada para as insónias, artrite, reumatismo, rins e bexiga.


1 comentário:

O Galaico disse...

Absolutamente fantástico.

A Natureza dá ao homem tudo o que ele precisa.

Em troca, nós destruimos-la assim como há memória e ao conhecimento ancestral.

Parabéns por este post super educativo.