terça-feira, 13 de maio de 2008

Salva-te Minho! Salva-te!

O antes:


"Árvores copadas, de uma doce tonalidade fresca, enchem o grande largo. Há uma indefinida simplicidade, um ar íntimo, quase de família, na população assim mergulhada no seio daquela natureza poderosa e boa. As termas, hoje em edifício regularmente montado, chegam a ser verdadeiramente um remédio, por se não parecerem em nada com o pretexto frívolo, que se chama ir fazer uma estação balnear, onde se ostentem as primeiras toilettes de Verão. O banhista das Taipas toma a sério o seu papel de doente, e por isso há quem diga que são tristes as Caldas, ainda no período intenso da sua maior concorrência. Eu achei, que eram apenas dessa vaga melancolia panteísta com que a natureza perfuma o coração do homem, dando-lhe a sensação inexplicável da sua absorção ao suave contacto dos beijos da terramater. Nada mais belo como paisagem, nada mais ameno como vegetação. O Ave que Vai ali tão perto, quase não ri,murmura; dir-se-ia que vai em meio deste silêncio, cantando uma canção ossiânica de uma tristeza dolente. Pois esta serenidade, que irrita os nervos das meninas solteiras e chega a curar os reumatismos dos papás abeberados de iodeto de potássio, oh prodígio! é exactamente o que se diz o grande defeito das Taipas!"

IN: O Minho Pitoresco, José Augusto Vieira; Livraria António Maria Pereira — Editor, Lisboa, 1886, tomo I, pp. 616-624

O após:




Décadas depois de apelidada pelas classes sociais mais dignas do Norte do país como "Sala de Visitas do Minho" (escolhida para férias e repouso, como os escritores Camilo Castelo Branco, Ramalho, Antero, Ferreira de Castro, entre outros), esta outrora gloriosa Vila de famosos e amenos Outonos é o reflexo do perigo que o Minho corre.

Situada entra Braga e Guimarães, no Baixo-Ave, desde sempre existiu uma enorme dinâmica que em tempos fez das Taipas o ex-líbris da região. Situada num extenso vale de terras riquíssimas e bem irrigadas, envolta por montes e serras que transpiram monumentalidade e arqueologia castreja, a outrora "terra onde a lua fala" (Ferreira de Castro), não passa de hoje de uma decadente lixeira industrial.

Vendeu os seus palacetes oitocentistas, destruiu as suas quintas centenárias, mutilou a vida do seu rio e até hipotecou o sucesso das suas aguas termais que brotam cheias de vida a mais de 40ºc do próprio solo. Hoje, choram os Taipenses pela glória perdida e pela vitalidade contagiante de um povo que hoje sumiu de vez.

As Caldas das Taipas é o perfeito exemplo do que o que não se deve fazer com a nossa bendita região.

Olho hoje com admiração para o Alto-Minho e admiro a mais cuidadosa e planeada organização do seu desenvolvimento. Talvez seja verdade que quando as Taipas (e outras vilas do Baixo-Minho ) já era polo de indústria e motor financeiro, a parte Norte da região vivia ainda na profunda ruralidade. Esta estagnação permitiu no entanto que o seu património e herança ficasse protegido das mãos dos necrófagos do lucro fácil sem escrúpulos guardando a mesma para uma geração mais responsável e atenta ao valor do modo de vida Minhoto.

Ouve-me Alto-Minho! Olha para as Taipas! Uma terra onde o próprio emperador Trajado mandou erigir uma monumental inscrição em honra das suas gloriosas águas e paisagens. Uma vila onde a alegria e beleza transpirava de todos os seus poros. Olha para ela e reconhece os perigos que te cercam. Nota a sua apodrecida carcaça e a ignorância de quem a gere. Olha para ela e realiza que esta pode vir a ser a tua face caso não estimes o que Deus te deu.

Alto-Minho! Não te vendas! Não deixes que crescam casas e betão onde riam ao ar livre, sob o brilhante nevoeiro, os Carvalhos Alvarinhos e os majestosos Sobreiros.

Alto-Minho! Toma consciência que tens a responsabilidade de mostrar ao mundo como se vivia e qual era a verdadeira face do teu irmão mais velho e vizinho!

Toma conta do Baixo-Minho agora que ele já não consegue ter conta em si.

Lembra-te que que a história repete-se e que esta existe para aprender com os erros do passado...

2 comentários:

Kriska disse...

É evidente o amor pela terra Natal, pela sua história, pelas suas tradições, pela sua cultura, pelas suas gentes... pelo seu passado e pelo que dele ainda se vislumbra no presente.
Por isso mesmo, são bem legitimas as preocupações perante o presente e o que ele fará do futuro.
Mas não posso deixar de salientar alguns aspectos interessantes:
parece que poderemos ter aqui lançadas as bases de uma nova religião, apelidada quem sabe "Galaicismo", cujo Deus, poderá bem ser o Alto Minho, ao qual foi dirija esta prece emocionada. Mas vendo bem, se assim fosse acho que este Deus teria todos os motivos para não atender a tais pedidos, uma vez que na mesma prece é algo desvalorizado através da referência a um Deus Superior que lhe deu alguma coisa que ele tem de estimar. Pobre Alto Minho...temo que venha a ser invadido pela revolta e pela ira e se torne um Caim para com o Deus Superior, do qual fará Abel.
Mas também pode não ser nada disto! Para quê ver espiritualidade religiosa, onde ela poderá não existir?
Não estará apenas o Alto Minho para o Baixo Minho, como um lar da 3ª idade está para um idoso?!!! Parece que este pobre coitado já perdeu as suas faculdades e vitalidade, se calhar até mesmo a sua sanidade! Por isso, urge que alguém toma conta dele e o auxilie! Quem melhor do que o vigoroso Alto Minho?
Mas ainda bem que ainda existe um Minho em boas condições para proteger o outro e o tentar fazer renascer das cinzas, como uma fénix! É sinal que nem todo o Minho está a ser dominado pela decadência dos tempos modernos!

Anónimo disse...

Belo post camarada.

O minho está "cocho", desiquilibrado camarada.